O ouro passou do pescoço para a ponta da língua. Sempre associado a restaurantes com estrela Michelin, já é usado na fast-food.
O ouro sempre foi associado ao luxo e à ostentação, mas este metal precioso foi acumulando outras funções mais práticas como a acumulação de riqueza ou o investimento económico e, pode ser usado até para comer. Apesar de parecer uma moda recente, usar pó ou folha de ouro na comida, a primeira referência data à Idade Média e aos grandes banquetes reais. Desde então, tem sido aplicado maioritariamente na pastelaria europeia, principalmente em França.
Por cá, na gastronomia, o ouro é usado na pastelaria e na restauração de luxo. Mas não só. Pouco a pouco chegou aos donuts, cupcakes e, no último mês aos hambúrgueres. O Hard Rock Café, no Porto, apresentou o 24-Karat Gold Leaf Steak Burguer, que tem os ingredientes habituais, da carne ao pão e à alface, mas o que o faz brilhar são as três folhas de ouro de 24 quilates que o completam.
O sabor é diferente? Não, porque o sabor do ouro é “neutro, pode comer-se mas não adiciona qualquer tipo de sabor nem textura”, por isso mesmo “é apenas decorativo. É um apontamento para dar beleza”, responde o chef Rui Paula, da Casa do Chá da Boa Nova, no Porto, detentor de duas estrelas Michelin. O cozinheiro usa folha de ouro no seu éclair de mexilhão, por exemplo.
No entanto, trabalhar com folha de ouro requer alguns cuidados, dependendo do objectivo, salvaguarda Fabian Nguyen, chef do Ritz Four Seasons, em Lisboa. Mas o maior problema é o custo (20 folhas de ouro custam cerca de 55 euros), logo, “os estabelecimentos mais pequenos não devem aderir muito”, avalia. No seu caso, estando num hotel de luxo, o chef usa o ouro na pastelaria, como no seu famoso mil-folhas. Mas o ouro também chega à mesa dos convivas em ocasiões comemorativas.
Uma nova roupagem
“A comida nos dias de hoje não tem só a ver com o produto em si. O que nós fazemos tem sido alvo de muita intervenção estética, desde a questão dos pratos à forma como é apresentado”, explica Bruno Azevedo, manager do Hard Rock Café do Porto. Sendo o hambúrguer o elemento mais vendido e mais antigo do restaurante, desde 1971, o objectivo foi “pegar num produto vulgar e dar-lhe uma nova roupagem”.
Ligado ao lançamento deste hambúrguer está Eugénio Campos, autor e empresário no ramo da joalharia portuguesa: “Quando se fala em ouro, lembramo-nos que a nossa avózinha falava das libras, dos cordões e da filigrana minhota. As pessoas da minha geração lembram-se do ouro como valor, como investimento e talvez das pulseirinhas e dos anéis. Até que chega a altura de tornar as jóias comestíveis.”
Estas “jóias comestíveis” não são feitas com o mesmo ouro utilizado na joalharia. O pó ou as folhas têm de ser, obrigatoriamente, de 23 ou 24 quilates. Normalmente, as folhas de ouro são 90% ouro puro e 10% de um outro metal seguro para ingerir, como a prata pura.
E quem é que procura um hambúrguer dourado? Segundo Bruno Azevedo “é um cliente que está num processo celebratório. Um aniversário, uma celebração, em que se encontra, no hambúrguer com ouro, um veículo para expressar essa celebração”. Pode também servir de ostentação, para colocar nas redes sociais, como o Instagram, e “demonstrar que se esteve naquele local e que se comeu um hambúrguer de ouro, porque é algo diferente”.
A comida “mais do que o produto em si que é vendido é uma filosofia e uma apresentação estética”, reforça Bruno Azevedo. E a filosofia deste hambúrguer tem um caráctér solidário: por cada um vendido, o Hard Rock irá doar um euro à associação U.Dream.
Esta moda é para qualquer público, considera Fabian Nguyen, mas para Bruno Azevedo não se tornará “algo mainstream, que seja consumido todos os dias”. Contudo, diariamente aparecem novas fotografias no Instagram com comida revestida de um dourado brilhante.
Créditos da Notícia: Público
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