É na casca que estão os principais nutrientes da fruta. Quantas vezes já ouviu esta advertência quando se preparava para descascar um pêssego? Provavelmente muitas. Parece, no entanto, que essa é uma ideia manifestamente exagerada. A casca tem importantes nutrientes, mas não valem (nem justificam) alguns sacrifícios.
A questão foi levantada num artigo da Buena Vida, do El País, ao que parece motivado por modas novas, também chamadas de tendências, espalhadas pela internet e redes sociais, que apregoam os preciosos elevados níveis de fibra contidos na casca do kiwi e desperdiçados por quem teima em comê-los descascados ou as superpropriedades do caroço de abacate, que com a hashtag #health (saúde) se aconselha a triturar e usar como condimento.
De uma coisa ninguém tem dúvidas, em nenhuma parte do mundo, embora os estudos relacionados com a nutrição sejam muitas vezes contraditórios e tanto elevem um alimento à categoria de super-herói como o integrem na lista dos inimigos públicos da saúde (o leite de vaca, os ovos e o salmão que o digam), a fruta é um alimento que deve fazer parte da dieta diária dos humanos, várias vezes ao dia.
A nutricionista portuguesa Magda Roma, autora de vários livros sobre alimentação saudável, confirma: “a fruta tem diversos nutrientes entre os quais, vitaminas, minerais, proteínas, algumas têm gordura, uma boa fonte de fibra, água e hidratos de carbono. Devemos de consumir de forma equilibrada, cerca de 2 a 3 peças de fruta inteiras por dia para aumentar os níveis de saciedade e boa nutrição”, diz, esclarecendo que consumida em sumo “não promove tanta saciedade como quando ingerimos na sua forma natural”.
A mesma especialista defende que, se possível, existe vantagem em comer a fruta com casca, já que esta tem nutrientes que não são de deitar fora. “Há estudos que referenciam que na maioria dos minerais, as cascas dos frutos têm níveis mais elevados que as partes comestíveis dos mesmos”, devendo preferir-se as versões resultantes de agricultura biológica, que têm menor concentração de agrotóxicos quando comparadas com as frutas de produção não biológica.
Já Manuel Moñino, presidente do conselho científico da Associação para a Promoção de Frutas, Verduras e Hortaliças 5 Al Día e membro da Academia Espanhola de Nutrição e Dietética, entrevistado pela Buena Vida, relativiza a importância da casca.
Para o especialista espanhol, o importante é que se coma fruta, com ou sem casca. Não nega a importância dos nutrientes nesta contidos, mas considera que estes não justificam sacrifícios, sobretudo se estivermos a falar dos peludos kiwis, que, diz ele, é na parte comestível que têm todas as fibras e restantes nutrientes. A escolha deve ser, pois, determinada pelo gosto de cada um. O principal conselho é que quem opte por comer com casca, lave muito bem os frutos.
Manuel Moñino explica que a “nossa história gastronómica e cultural pôs cada fruta no seu lugar e contexto e não há razões nutricionais para tais sacrifícios. A casca dos frutos pode, em certos casos, aumentar o conteúdo em fibra e polifenóis, mas essas substâncias também estão na matriz. Não é necessário comer talos, caroços ou cascas da fruta para aumentar o consumo de nutrientes”.
Portanto, coma a fruta com ou sem casca, como preferir. O importante é que coma. De preferência, da época e muito bem lavada, caso opte pela versão completa.
Créditos da Notícia: Diário de Notícias