Em dois anos, a comunidade veggie cresceu 33% em Portugal. As fábricas e cadeias retalhistas estão a seguir a tendência de consumo, que é sobretudo feminina e penalizada no preço.
A comunidade dos veggies em Portugal está a crescer e já conta com um milhão de pessoas. Em dois anos, a população portuguesa que pertence a este grupo que engloba vegans, vegetarianos e flexitarianos cresceu 33%. A preocupação com saúde, o bem-estar animal e a sustentabilidade são os principais incentivos para este tipo de alimentação, de acordo com o estudo The Green Revolution.
Dentro da comunidade veggie, a maior parte dos consumidores considera-se flexitariana, ou seja, segue uma dieta alimentar menos rígida e que permite o consumo de carne e peixe de forma ocasional. Quase 10% dos portugueses diz ser flexitariano, 27% acima do registo de há apenas dois anos. Já os vegetarianos representam uma fatia menos expressiva: 2,1% da população adulta, isto é, 180 mil pessoas.
Ainda de acordo com o estudo, 41% dos portugueses declara ter reduzido ou eliminado o consumo de carne vermelha no último ano, enquanto 47% da população assegura ter diminuído ou acabado com os enchidos no prato. Com a comunidade veggie a ganhar peso e influência, as empresas estão a apostar cada vez mais neste segmento. É o caso do Lidl ou da Nestlé.
Em declarações ao ECO, Alexandra Borges, directora geral de compras do Lidl Portugal, conta que o grupo “tem aumentado significativamente a oferta de produtos vegan” e que isso é uma forma de “acompanhar as tendências dos consumidores, que se preocupam cada vez mais com os hábitos alimentares, optando por uma alimentação saudável e escolhas mais conscientes”.
A responsável da retalhista alimentar adianta que um dos objectivos do grupo de origem alemã passa por “aumentar gradualmente a variedade do sortido com oferta vegetariana e vegana à medida que a procura aumenta”. Actualmente, o Lidl Portugal tem cerca de uma centena de artigos alimentares vegan. Hambúrguer, saladas, salsichas, creme de barrar, bolachas e chocolate são alguns dos produtos vegan que tem nas prateleiras. Em Abril lançou o primeiro vinho vegan certificado de origem nacional.
Andreia Vaz, líder da área de inovação da Nestlé, sublinha que a empresa “tem vindo a fazer um longo caminho na área da democratização”, definindo como “importantíssimo” o investimento neste universo. A multinacional tem “uma missão altamente prioritária em criar todas as soluções para, em todas as categorias, ter uma alternativa à origem animal”, garante, acrescentando que a Nestlé tem já cerca de 300 pessoas dedicadas exclusivamente ao plant-based.
Álvaro Carrilho é director de vendas da Upfield, uma fabricante de produtos de origem vegetal que está presente em grandes superfícies, como a Sonae, Auchan, El Corte Inglés e Aldi. Garante que estamos perante uma “uma explosão de mediatismo em torno das preocupações ambientais e alimentação saudável e cabe [à empresa] dar essas alternativas, porque a procura existe”. “O futuro a curto prazo vai ser claramente de grande crescimento. Obviamente que a penetração destes produtos no mercado ainda é baixa, mas isso só quer dizer que o sentido de oportunidade é gigante”, completa.
Hélder Ruivo, CEO da Veg In, empresa portuguesa que produz produtos de origem vegetal, dos aperitivos às sobremesas, conta ao ECO que a procura tem crescido entre 35% a 40% ao ano. “A população começou a ter uma dieta mais variada e nasceu uma nova tendência de mercado: os flexitarianos”. O empresário realça que os principais consumidores estão na faixa dos 18 aos 35 anos.
Em declarações ao ECO, David Lacasa, partner da Lantern, que lançou o estudo The Green Revolution, salienta que os primeiros grupos de vegans começaram a aparecer a partir do século XIX e que “os flexitarianos são uma tendência mais atual, mais moderna, que tem como base, acima de tudo, reduzir o consumo de carnes e de peixe e incorporar mais verduras na alimentação”.
Preocupações com a saúde (68%), bem-estar animal (30%) e sustentabilidade (29%) lideram as motivações dos consumidores flexitarianos. Já os vegetarianos e os vegans defendem a sua dieta com os argumentos da sustentabilidade (73%) e do respeito pelos animais (69%)
No que toca ao género, a tendência veggie tem crescido, sobretudo, entre as mulheres. Uma em cada sete assume-se como veggie, o que significa 13,7% da população feminina. Um número que cresce em comparação com 2019, quando eram uma em cada oito. Já entre os homens, apenas 10% diz pertencer à classe veggie.
David Lacasa explica que esta tendência se deve essencialmente a um factor: “são as mulheres que começam as tendências e que se preocupem mais com a saúde”. O porta-voz contrapõe ainda que, em Espanha, os homens já representam metade da comunidade dos veggies. E está convicto que no futuro será igual deste lado da fronteira.
Hélder Ruivo, CEO da marca nacional de produtos de origem vegetal Veg In, confirma que a tendência veggie tem crescido mais entre as mulheres. “As mulheres são mais sensíveis a este tema e, regra geral, são quem faz as compras e acaba por decidir uma alimentação mais saudável”.
Ao nível da restauração, Portugal já conta igualmente com várias opções para a comunidade vegan. O título de melhor cidade para vegans e vegetarianos vai para Lisboa, com 375 restaurantes. O Porto ocupa a segunda posição, somando 186 unidades, seguido do Funchal (57), segundo a análise realizada pela Holidu. A fechar o top 5 estão Lagos e Braga, com 47 e 43 restaurantes, respetivamente.
Preços mais elevados
Apesar da procura crescente por produtos de origem vegetal, David Lacasa alerta que a comunidade vegan relata como “principais problemas os preços e os produtos muito processados”. Por isso, considera que as marcas “ainda têm muito caminho a percorrer”. “Os vegetarianos querem produtos saudáveis e seguros ao mesmo tempo. As marcas têm de desenvolver os produtos de outra forma e com outro foco”, realça o partner da Lantern.
Alexandra Borges, directora geral de compras do Lidl Portugal, explica que “o consumo de produtos de origem vegetal, apesar de ser uma tendência crescente, é ainda inferior aos produtos de origem animal, pelo que, devido ao custo de produção, matérias-primas, escala a que são produzidos e cadeia de distribuição, apresentam custos de aquisição superiores, reflectindo-se no preço final para o consumidor”.
“Um produto deste género é sempre mais dispendioso que um produto standard, tanto para o consumidor como para quem produz. No entanto, acredito que com o passar do tempo e produções maiores, este tipo de alimentação vai conseguir ser mais competitiva no mercado. É um caminho que temos de percorrer, mas no imediato não vamos assistir a uma baixa de preços“, conclui Hélder Ruivo, CEO da Veg In, que exporta 19% da produção para o mercado europeu e asiático.
Créditos da Notícia: ECO