O livro “A cook’s tour - Em busca da refeição perfeita”, agora disponível em versão portuguesa, recorda as aventuras do Chef Anthony Bourdain à mesa e fora dela, em cenários tão diferentes como Portugal, Japão ou Vietname.
“Vou viajar por todo o mundo, a fazer o que quero. Fico em bons hotéis e em barracas. Como comida assustadora, exótica e maravilhosa, faço coisas porreiras como vi nalguns filmes, e vou procurar a refeição perfeita.” É esta a proposta que Anthony Bourdain faz ao editor quando, aos 44 anos, e sem ter estado “praticamente em lado nenhum”, dá por si pronto a correr o globo atrás de alguma magia à mesa e fora dela (por exemplo, sentado no mato, ao escuro, de pernas cruzadas, porque o contexto importa). O resultado é “A cook’s tour – Em busca da refeição perfeita”, publicado originalmente em 2001 nos Estados Unidos e agora disponível em versão portuguesa.
Logo nas primeiras páginas, o Chef, autor e apresentador de televisão americano, falecido em 2018, mostra-se aberto a todo o tipo de aventuras culinárias e disposto a ver de onde vem, de facto, a comida. Aqui entram as vivências em Portugal, através de um relato duro e pormenorizado da matança do porco. “Quando quero carne, faço uma chamada, ou lanço um olhar ao meu sous-chef, ao meu talhante ou ao meu charcutier, e eles fazem a chamada”, escreve, estabelecendo um paralelismo com Michael Corleone, n’ O padrinho II, a ordenar mortes. Está habituado a que a “vítima” – outro ser vivo – lhe chegue em caixas ou embrulhada em plástico, sem ter tido de a encarar. Mas isso há de mudar numa quinta nortenha, quando assiste ao abate de um animal, algo “desagradável ao extremo”, reconhece.
Bourdain põe o nosso país na lista dos que confeccionam pratos deliciosos aproveitando tudo dos vegetais e animais, mesmo “as partes menos agradáveis”, historicamente, por necessidade. E testemunha como se passa horas a comer e a beber em grupo, planeando já a refeição seguinte.
“Portugal foi o início, onde comecei a notar as coisas que faltavam na experiência gastronómica média americana”, conclui, antes de rumar a outras paragens à caça de emoções fortes pelo palato – e também de memórias, como acontece em França, a pretexto das ostras. Vietname, San Sebastián, Japão e Marrocos são cenários de uma viagem que põe cada leitor a recuar no tempo, com o sabor das lembranças na boca.
Créditos do Artigo: Evasões
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