O azeite é um negócio global multibilionário e Manuel Román está determinado a criar um mercado ainda maior a partir deste fruto sagrado da antiguidade. Román é cofundador da ISANATUR, uma empresa espanhola que construiu uma refinaria capaz de transformar cada parte de uma azeitona num produto comercial de algum tipo.
Polpa e caroços
Apenas cerca de 25% de uma azeitona é utilizada para o azeite premiado, sendo o resto da polpa, dos caroços e da água depositados em aterros ou transformados em fertilizantes. Os caroços também podem ser utilizados como combustível.
"O que é necessário é um mercado disposto a utilizar os produtos - o pó de azeitona, água de azeitona, sementes de azeitona", explica Román, antigo coordenador de um projecto financiado pela UE, que desenvolve formas de transformar todos os resíduos em bens comercializáveis. A produção anual global de azeite totaliza cerca de três milhões de toneladas, das quais dois milhões de toneladas se encontram na Europa. O mercado mundial do azeite vale quase 13 mil milhões de euros, de acordo com a Fortune Business Insights. Enquanto o azeite é chamado de "ouro líquido" há milénios devido aos seus muitos benefícios para a saúde, os seus resíduos estão também cheios de benefícios.
As empresas na Europa estão a desenvolver formas de explorar esta rica fonte de ingredientes para poderem ser utilizados em produtos de saúde e beleza, suplementos alimentares e rações para animais.
"Milhares de toneladas de produtos naturais não estão a ser utilizadas e estamos a perder a oportunidade de comer estes compostos saudáveis", diz Román. Foi coordenador interino da UP4HEALTH, projecto que começou em meados de 2020 e deverá continuar até ao final de Maio de 2024. Gerido a partir de Espanha, o país que mais azeite produz na Europa, o projecto reúne participantes determinados a acabar com o desperdício envolvido na exploração das azeitonas.
A ISANATUR está já a vender pó feito de polpa de azeitona - que é rica em ferro, proteínas e antioxidantes - para utilização em barras e suplementos alimentares.
O potencial global é enorme. Outros produtos incluem fibra solúvel para estimular a saúde digestiva, bebidas feitas de água de azeitona e gorduras vegetais que podem ser utilizadas como hidratantes para a pele.
Embora a UP4HEALTH inclua várias pequenas e médias empresas alimentares e nutracêuticas que testam os produtos, pretende atrair grandes empresas multinacionais que poderiam criar uma procura suficiente para escalar.
Um dos principais obstáculos à transformação de resíduos biológicos em novos produtos é a criação da procura e a construção das cadeias de abastecimento para a satisfazer.
Promessas das Folhas
As folhas de oliveira, que normalmente são deixadas a apodrecer nos olivais ou queimadas para se obter energia, têm também um potencial comercial significativo. Um segundo projecto financiado pela UE e coordenado a partir de Espanha, o OLEAF4VALUE, reuniu cientistas, empresas multinacionais e olivicultores para desenvolver utilizações para as folhas em diversos produtos.
As folhas de oliveira contêm antioxidantes, anti-inflamatórios e antimicrobianos, que, tal como os resíduos de azeite, poderiam ser utilizados em suplementos alimentares, produtos farmacêuticos, produtos de beleza e rações para animais.
Actualmente, apenas cerca de 0,2% das folhas residuais de oliveira do mundo encontram utilizações comerciais, de acordo com o OLEAF4VALUE. O projecto pretende aumentar esta percentagem para os 15% com a ajuda da Oleícola El Tejar, uma cooperativa agrícola espanhola que já gere uma percentagem equivalente do fornecimento mundial de polpa de azeitona, caroços e folhas.
O projecto está a trabalhar com a Mibelle Biochemistry Switzerland, uma multinacional que concebe ingredientes para a indústria da beleza.