“Muito irá depender da duração da pandemia e da acção do governo e da União Europeia para proteger os trabalhadores de um sector que é naturalmente sazonal mas que irá sofrer uma enorme impacto com pandemia”, afirma a advogada Margarida Osório de Amorim.
O turismo vai ser um dos sectores mais afetados pela pandemia da Covid-19, depois de vários anos de promoção e bons resultados ao nível de visitantes e financeiros. Com o turismo, foram criados milhares de postos de trabalho, com um reforço em hotéis e restaurantes e a criação de apartamentos em modo Airbnb/Booking, que acabou por fazer subir os preços da habitação.
Agora, com muitos destes postos de trabalho precários, pouco se sabe do que será o futuro dos trabalhadores do ramo, sendo que o Conselho Mundial de Viagens e Turismo aponta a perda de 50 milhões de empregos em todo o mundo.
Ao representar 6% do PIB português, o Jornal Económico falou com a advogada Margarida Osório de Amorim, sócia na área de Imobiliário, Urbanismo e Turismo PLMJ, para perceber qual o futuro que os profissionais da área devem esperar e como poderá ser o futuro do turismo em Portugal depois do ‘tsunami’ Covid-19.
Nos últimos anos, muitas pessoas têm dependido do sector do turismo para sobreviver. Quantos empregos deve o turismo perder em Portugal até ao fim desta pandemia?
Não conseguimos calcular quantos postos de trabalho deve o turismo perder em Portugal, sendo certo, porém, que o impacto da atual situação no sector do turismo vai intensificar-se nos próximos tempos.
O que neste momento sabemos é que, segundo dados lançados pela Comissão Europeia, no inicio de março, a União Europeia perdeu dois milhões de dormidas e mil milhões de euros desde o início de janeiro devido à ausência de turistas chineses.
Em Portugal, onde o turismo é a maior actividade económica exportadora, tendo sido responsável, em 2018, por 51,5% das exportações de serviços e por 18,6% das exportações totais, e contribuído para 8,2% no PIB português, o sector da hotelaria calcula uma perda de receita de 30%.
Este panorama não é bom, tendo em conta que tínhamos, em 2018, um ritmo de crescimento das receitas turísticas (+9,6%) e dos proveitos globais (+7,3%) mais acelerados que o aumento de hóspedes (+3,8%) em 2018.
Quais serão as principais consequências do sector quando decretarem o fim da pandemia?
Como na crise do imobiliário que vivemos há alguns anos, os promotores, os exploradores e todos os players do mercado turístico e hoteleiro em Portugal serão, de novo, resilientes e inovadores; o mercado do turismo e da hotelaria terá necessariamente de se reinventar e de, num primeiro momento, centrar-se no mercado interno.
Num sector precário como o turismo, como se avizinha o futuro dos profissionais?
E ainda cedo para antecipar o real impacto nos trabalhadores do sector do turismo. Muito irá depender da duração da pandemia e da acção do governo e da União Europeia para proteger os trabalhadores de um sector que é naturalmente sazonal mas que irá sofrer uma enorme impacto com pandemia. É fundamental criar condições para que o sector do turismo possa rapidamente atingir o nível de serviço e de qualidade e para isso é preciso manter os trabalhadores que são necessários para tal.
Prevêem indemnizações neste sector?
É provável que, similarmente ao que sucederá nos sectores económicos mais afectados, haja necessidade de restruturações nas empresas da hotelaria, as quais podem implicar a redução de trabalhadores. De notar, porém, que se as mesmas recorrer ao lay-off ou ao lay-off simplificado não poderão nem durante, nem até 60 dias após o fim da medida promover despedimentos colectivos ou despedimentos por extinção de posto de trabalho.
Existe previsão de encerramento de unidades hoteleiras? E de alojamentos locais?
No dia 11 de Março de 2020, o Covid-19 foi declarado como uma pandemia pela Organização Mundial de Saúde, tendo as autoridades portuguesas começado por recomendar comportamentos de isolamento social e por impor inúmeras restrições a vários tipos de negócios e actividades. Como sabemos, foi declarado o estado de emergência em Portugal e a imposição, entre outras, do encerramento de actividades vitais para o turismo e para o funcionamento dos empreendimentos turísticos em Portugal: restaurantes, bares, esplanadas, piscinas, spas entre outros devem e têm de encerrar.
A actividade hoteleira e o sector do turismo em Portugal sofreram logo o impacto; assistimos rapidamente à deterioração do ritmo de reservas e ao simultâneo aumento de cancelamentos; isto porque as fronteiras terrestres da maioria dos países estão encerradas e os vôos estão, na sua grande maioria, suspensos e, sejamos claros, a ideia de lazer e de descanso que o turismo aporta a cada um de nós está, neste momento, suspensa e a grande maioria dos empreendimentos turísticos em Portugal não têm, neste momento, qualquer hóspede ou cliente.
Assim, e neste cenário (real), os promotores, os exploradores e todos os players do mercado turístico e hoteleiro estão a ser forçados a suspender a sua actividade e a fechar as suas portas a ao público e a hospedes (até porque não existem hóspedes e o público deve, na medida do possível, estar recolhido).
As medidas decretadas pelo governo são suficientes para este sector?
As medidas que foram anunciadas são boas e são, de facto, necessárias porque o impacto financeiro desta crise no sector do turismo é e vai ser inevitável.
Diria, porém, que podemos e devemos fazer mais porque a história do turismo e da hotelaria em Portugal é uma história de sucesso; os promotores, os exploradores e todos os players do mercado turístico e hoteleiro em Portugal são agentes de sucesso e relevantes contribuidores para a economia portuguesa; e isto não pode nem deve ser ignorado.
É certo que, muito provavelmente, teremos de nos reinventar, de nos posicionar diferentemente e de nos ajustar a uma nova forma de viajar e de turismo; mas devemos preparar já esse reinicio com medidas concertadas, com o ambiente jurídico e financeiro adequado, justo e correcto mas apelativo. O sector não pode nem deve estar em shut down mas sim on-hold.
Créditos da Notícia: O Jornal Económico