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Pêro de Monchique regressa à serra e até tem direito a campo de demonstração | in "Sul Informação"

Projecto conjunto de preservação e valorização do Pêro de Monchique traz uma oportunidade inquestionável para valorização deste produto tradicional.

O pêro de Monchique – que na realidade é uma variedade de maçã – vai voltar a ser produzido no seu local de origem, os socalcos da serra, preservando este recurso genético e valorizando o facto de se tratar de um produto tradicional.


Juntando projectos e sinergias da Câmara Municipal de Monchique e da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve (DRAP Algarve), esta Quarta-feira, dia 17, às 10h00, foi assinado (de forma virtual) um Protocolo de Cooperação entre aquelas duas entidades, com a presença (também virtual) de Rui Martinho, secretário de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Rural.


Este será o passo inicial para a instalação, nos socalcos serranos da Quinta do Convento (junto ao arruinado Convento de Nossa Senhora do Desterro), em terrenos comprados nos últimos anos pelo município, de um Campo de Demonstração de pêro de Monchique e de uma colecção de fruteiras, réplica da instalada no Centro de Experimentação Agrária de Tavira da DRAP Algarve.


Até aos anos 90 do século passado, nas feiras anuais que costumam ter lugar no Outono, no Algarve, sobretudo na de São Martinho, em Portimão, era hábito vender os pêros de Monchique. O seu cheiro intenso, característico, é uma das memórias que os barlaventinos de meia idade guardam dessas feiras.


Nas hortas, muitas vezes dispostas em socalcos encosta abaixo, ou nos barrancos mais recônditos da serra de Monchique, ainda por lá há exemplares de macieiras dessa variedade característica da zona. Mas muitas foram morrendo, outras foram sendo enxertadas com variedades mais modernas e produtivas, ou arderam, nos vários incêndios que têm devastado a serra nestas décadas.


É por isso que o trabalho de técnicos da DRAP Algarve, com destaque para o engenheiro António Marreiros, foi fundamental para garantir que esta variedade única de fruta ainda existe e pode ter futuro.


António Marreiros é o responsável pela colecção de variedades tradicionais de fruteiras do Algarve instalada no Centro de Experimentação Agrária de Tavira. Ali há alfarrobeiras, amendoeiras, figueiras, nespereiras, romãzeiras e macieiras do pêro de Monchique. É um verdadeiro «banco de germoplasma», um tesouro de biodiversidade.

«Desde os anos 90 que começámos a recolher algum material em Monchique. Lembro-me de, nessa altura, ter estado na propriedade de um pequeno agricultor, que era o senhor João da Vila, onde recolhemos 14 materiais», recorda António Marreiros, em entrevista ao Sul Informação.


Depois, em 2011 e 2012, avançou mesmo um projecto para recolher, em todo o Algarve, material das fruteiras tradicionais, mais os citrinos (cuja colecção está instalada no Patacão, sede da DRAP).


Quanto ao pêro, «a nossa recolha foi baseada na informação dada pelos agricultores ou por colegas nossos dos serviços de Agricultura. Andámos por aqui e por ali», calcorreando montes, vales e barrancos à procura das árvores.


«Recolhemos muito material no concelho de Monchique, mas também em algumas zonas de Aljezur e até na parte norte da freguesia da Mexilhoeira Grande. Do ponto de vista do solo e do clima, são zonas muito semelhantes».


Os locais de colheita foram, na medida do possível, georreferenciados, embora houvesse «barrancos onde nem se conseguia apanhar sinal para fazer a georreferenciação», recorda António Marreiros.


Os materiais recolhidos de árvores de pêro de Monchique (32 materiais, dos quais 14 provenientes da quinta do senhor João da Vila) foram depois plantados, em 2013, em Tavira, no Centro de Experimentação, com sucesso relativo.


«Esta árvore precisa de frio para fazer a diferenciação floral», para que possa dar frutos em condições. Acontece que, em Tavira, num terreno que está a «apenas dois quilómetros do mar», não há frio suficiente para que as árvores desta variedade se desenvolvam na sua plenitude.


Actualmente, no Centro de Experimentação de Tavira, a coleção de fruteiras tradicionais inclui cinco plantas de cada “variedade” recolhida de pêro de Monchique.

Mas, para se chegar a estas árvores, ainda houve um longo caminho a percorrer, que passou pela cooperação de um especialista do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), que «determinou qual o porta-enxerto mais indicado». Depois, «contratámos um viveirista, levámos-lhe o material para ele produzir as plantas e, no ano seguinte, a gente plantou-as em Tavira».


Pelo meio, houve igualmente a colaboração de Rui Mateus, um estagiário a fazer, na altura, o seu trabalho de mestrado, sob orientação do professor da UAlg Amílcar Duarte e de António Marreiros, intitulado “Caracterização de variedades tradicionais de macieira (Pêro de Monchique)”. Rui Mateus integra hoje o projecto, pelo lado da Câmara de