O preço dos cereais e óleos alimentares, base da alimentação na maioria das regiões, voltou a níveis pré-Guerra. Mas não deve reflectir-se tão cedo no bolso dos consumidores.
Passaram precisos seis meses desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, e desde então o mundo tem assistido a um aumento exponencial de preços em todas as frentes: petróleo, gás, alimentos, metais…no entanto, os cereais e os óleos já estão a dar sinais de alívio nos mercados onde são comercializados.
Dados recolhidos pela The Economist mostram que os contratos futuros de trigo, em Chicago, para entrega em Dezembro, estavam a negociar nos 7,70 dólares o alqueire, muito abaixo dos 12,79 dólares que tinha atingido três meses antes – e de volta aos preços registados em Fevereiro, antes do fatídico dia 24.
O mesmo movimento foi registado nos contratos futuros de óleo de palma e milho, com os preços a cair todos para os níveis de negociação pré-Guerra da Ucrânia.
Mas o acordo assinado na semana passada entre a Rússia e a Ucrânia, para permitir a saída de cereais ucranianos dos portos do mar Negro – recorde-se que esta é uma das nações que mais produz cereais e é responsável, sobretudo, por muito dos fornecimentos que chegam a África, onde a dieta depende fundamentalmente destes grãos – só explica parte desta movimentação.
O departamento de Agricultura norte-americano aponta as boas perspectivas das colheitas russas em 2022-2023 como uma das razões que mais contribuiu para o esvaziar da bolha de preços dos cereais – os números mais recentes revelados por esse organismo público, e também citados pela The Economist, dão conta de que a Rússia deve exportar, das suas quintas, 38 milhões de toneladas após as próximas colheitas, o que deverá suprir as elevadas necessidades do Norte de África, Médio Oriente e Ásia.
Para já, o receio de uma vaga de carestia alimentar em alguns pontos do globo – que até há bem pouco tempo esteve em cima da mesa, com o presidente da ONU, António Guterres, a apelar a todas as nações para um compromisso que o evitasse – parece estar afastado, tal como uma disrupção grave da cadeia de abastecimento. Analistas garantem que as reservas de trigo estão extremamente elevadas, o que significa também que a antiga relação entre oferta e procura que costumava impactar os preços, tem menos responsabilidade nos actuais valores praticados do que seria expectável.
A elevada inflação, bem como a incerteza generalizada sobre os próximos capítulos da História Mundial deverão atrasar o reflexo desta baixa de preços no bolso dos consumidores, a lidar com valores recorde de inflação e aumentos de preços justificados pela Guerra – mesmo quando os produtos em questão não sofreram com a invasão da Ucrânia.
A seca – uma das mais graves dos últimos 80 anos, na Europa – vai afectar muitas colheitas, enquanto o preço de matérias-primas como o petróleo e o gás impactarão o valor final dos produtos que chegam a casa das famílias em todo o mundo.
Em Portugal, o preço do cabaz de bens essenciais deu sinais de ligeiro alívio na semana passada, ao cair 2,2% (ou cerca de €4), mas ainda continua a custar mais €23,14 do que antes da Guerra. A DECO Proteste compila e compara os dados do Instituto Nacional de Estatística, que estabeleceu 63 produtos essenciais que fazem parte do cabaz das famílias portuguesas durante um mês.
Entre aqueles que mais valorizaram desde o dia 24 de Fevereiro continuam a contar-se a carne, cujo preço subiu 17,47%, o peixe (14,90%) e o óleo de palma, pelo qual os portugueses estão a pagar mais 30% do que no início do ano.
Créditos da Notícia: Revista Visão