Depois de Lisboa, Porto, Coimbra e Guarda, o Enóphilo Wine Fest prepara-se para chegar ao Sul, mas Luís Gradíssimo promete que a dimensão é para manter.
O engenheiro informático feito enófilo – “é isso que eu sou. Não sou especialista em vinhos, sou só uma pessoa que gosta muito de vinhos e que estuda e que faz disto vida” – criou, em 2015, um evento que embora tenha mudado de nome manteve o objectivo inicial e está hoje bem consolidado no mercado nacional. No Enóphilo Wine Fest, Luís Gradíssimo faz uma cuidada curadoria aos não mais de 40 produtores que marcam presença, e que além de cumprirem o critério de não poderem ser grandes casas vitivinícolas, têm também de ser projectos já conhecidos e estudados pelo fundador e líder do projecto.
Gradíssimo começou a dedicar-se aos vinhos depois de cerca de seis anos a trabalhar com informática – que nunca deixou, porque afinal o Wine Club of Portugal e, antes disso, o Adegas de Portugal, foram projectos que nascem com uma forte base tecnológica – e após muito estudo em áreas que lhe despertavam interesse. Depois de Engenharia Informática estudou Gestão, fez um MBA, certificou-se em Vinhos do Porto, da Madeira e Sherry e até rumou a França para fazer um curso na prestigiada Le Cordon Bleu, intitulado “Altos Estudos do Gosto” – em tradução livre. “Eu não queria aprender a cozinhar, não queria culinária. Aquilo de que eu gosto é de gastronomia. Saber história, fundamentos, saber a Gastronomia enquanto estudo da alimentação do Homem”, conta à EXAME durante uma conversa descontraída numa manhã soalheira, em Lisboa. “Uma temática que eu vinha a explorar, informalmente, era a relação entre o vinho e a gastronomia e foi sobre isso o meu projecto final nesse curso, na Le Cordon Bleu. Que nunca ninguém tinha feito!!”, diz divertido. Nós entendemos a surpresa e aplaudimos a iniciativa.
É precisamente daí que nasce o seu primeiro livro – que é também o primeiro volume de uma trilogia que se espera completa no final deste ano ou início do próximo: no Enogastronomia, Luís explica em linguagem simples mas rigorosa as ligações entre vinhos e comida e por que razão há combinações que podem funcionar melhor do que outras. O segundo volume é dedicado aos vinhos espumantes, e a caminho está um sobre vinhos fortificados.
De estudar a começar a dar formações ainda foi preciso passar algum tempo – no entanto, começou a facilitá-las, convidando pessoas em quem confiava e cujos conhecimentos estavam mais do que provados. Mas depois de criar o Wine Club of Portugal, em 2013 (todos os meses os membros recebiam um conjunto de garrafas que ele seleccionava) não precisou de muito tempo para perceber que lhe faltava a interacção física com os outros elementos. E decide criar o Lisbon Wine Fest, “que não foi um grande sucesso, mas que para mim foi uma grande vitória. Uma pessoa que não era do sector conseguir reunir 30 produtores no Double Tree by Hilton, em Lisboa, foi óptimo”, conta orgulhoso. Corria o ano de 2015 quando tudo começou, e em 2016 o Wine Fest já se tinha mudado para o Ritz e já chegaria à Alfândega do Porto.
No entretanto, o Clube ficaria para trás, e daria lugar ao Enóphilo: um projecto que para além dos eventos que continua a fazer todos os anos, promove formações na área do vinho e da gastronomia, online e presencialmente. Praticamente todos os módulos são assegurados por Gradíssimo – que continua a fazer dos estudos uma área de eleição – excepto quando o tema é tão técnico que ele não se sinta confortável para ensinar.
Num País em que se multiplicam os eventos dedicados ao sector do vinho, onde é que o Enóphilo Wine Fest se destaca – ou por que razão a EXAME o foi conhecer?
Porque é um evento descentralizado, que depois de ter conquistado Lisboa e Porto chega em formatos um nadinha mais pequenos a Coimbra e Braga. “Foi uma pedrada no charco. O Enóphilo Wine Fest é um evento de nicho, mas multiregional. Era preciso ir ao resto do País”, justifica o seu criador que, até agora, trabalhou sempre com capitais próprios apesar de não negar “que mais investimento seria bem-vindo”, diz divertido.
Na capital e no Porto, Luís reúne 40 produtores – e outros 10 que respondem, a cada edição, a um desafio concreto. Este ano, por exemplo, foram falar de e mostrar os vinhos de talha, que apesar de voltarem a estar a conquistar o mercado, ainda não são tão compreendidos pelos consumidores. Em Braga e em Coimbra, não passam dos 30. Desses, 20 compraram o ‘pack anual’ para poderem comparecer em todos os eventos do Enóphilo.
São projectos mais pequenos que se querem dar a conhecer, e que não têm muitas vezes capacidade para participar nos eventos maiores – “e imprescindíveis como a Essência do Vinho ou o Encontro de Vinhos e Sabores”. Estar presente numa iniciativa que conta com uma curadoria cuidada e que permite que o público (nunca mais de mil pessoas) tenha uma abordagem mais intimista com cada produtor é a grande mais-valia deste Enóphilo que Luís pretende fazer chegar mais a sul, “possivelmente, já em 2024. Ainda não encontrei o lugar certo”. Não desvenda se será Alentejo ou Algarve, mas percebemos que está para breve o anúncio do que aí vem.
Para os produtores, o custo de participação varia entre os €275 (Braga e Coimbra) e os €375 (Lisboa e Porto) e todos estão em igualdade de circunstâncias: não há qualquer diferenciação dos espaços, uma opção que Luís garante que também é para manter. “Há um valor especial para quem participa nos quatro”, mas isso é tudo. “Quero manter o formato e a dimensão para não descaracterizar o evento”, a caminho dos 10 anos de existência e já bem firmado no sector.
Para isso, há três regras que Luís cumpre escrupulosamente: todos os produtores são de pequena ou média dimensão; garante a presença de produtores de todas as regiões e, se houver da mesma região, têm de ter perfis diferentes, e há sempre dois ou três novos produtores para que haja novidades, não apenas nos vinhos que se provam – isso as colheitas garantem –, mas também nos projectos e perfis apresentados.
O convite ficou feito: no próximo Sábado, 27 de Maio, o Enóphilo Wine Fest estará em Braga com os seus 30 produtores para mais um dia de conhecimento e provas. A Coimbra chega no dia 17 de Junho e o Porto recebe o evento a 18 de Novembro. Os bilhetes para o evento custam €10 se forem comprados online e €15 se forem adquiridos no dia, incluindo o empréstimo do copo para as provas.
Nos entretantos, Luís continuará a diversificar a oferta formativa, que para já vai desde cursos de vinhos até cursos de enogastronomia sendo que “poderá haver mais novidades” muito em breve, adianta o responsável do projecto.
Afinal, onde há comida e vinho há sempre um vasto mundo de oportunidades.
Créditos da Notícia: Exame
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