A chegada do Dia das Bruxas e a procura pela abóbora perfeita para decorar a casa dos fãs desta celebração faz, nesta altura, disparar os preços deste fruto. Contamos a história de um ritual iniciado no tempo dos celtas.
Há quem a conheça como abóbora-menina, a Cinderela, ou pelo nome científico Cucurbita maxima, mas, na véspera do Dia das Bruxas, este fruto (a abóbora é mesmo um fruto) é designada de “abóbora de Halloween”. Aliás, por esta altura do ano, é comum encontrá-la à venda nos supermercados por um preço mais alto do que o habitual e com autocolantes que ajudam os seus compradores a esculpirem nela uma cara assustadora.
Um costume importado, mas a que cada vez mais pessoas aderem. “Como se sabe, o Halloween não é uma prática nacional e esta espécie, até há pouco tempo, nem sequer era produzida em Portugal”, explica Maria Matos, uma das organizadoras do Festival da Abóbora de Lourinhã e Atalaia (que decorre entre os dias 1 e 3 de novembro, no Pavilhão Multiusos da Atalaia). É efectivamente na Lourinhã que se concentra a maior produção de abóboras a nível nacional, e o festival serve, assim, como montra de um produto bem conhecido dos portugueses.
Exceção feita, como já se viu, para a Cucurbita maxima, uma das espécies presentes no festival e que tem vindo a ganhar terreno quando os produtores começaram a perceber que também em Portugal existe um mercado a explorar. “As abóboras que normalmente se produzem rendem ao agricultores cerca de 10 ou 12 cêntimos por quilo. Já esta abóbora pode ser encontrada [por esta altura] em superfícies comerciais por um valor entre os 2€ e os 5€”, diz a organizadora, realçando que, apesar de a receita ser superior, os custos de produção são os mesmos. Mas, afinal, de onde vem esta prática? Vamos à história.
Da Jack-o’-lantern à “coca” A tradição de cravar frutos ou vegetais remonta à Antiguidade, encontrando-se um dos primeiros exemplos no povo maori, nativo da Nova Zelândia, que utilizava cabaças como lanternas.
No entanto, a tradição de criar as Jack-o’-lanterns, designação atribuída em inglês à fruta iluminada (em Portugal é também conhecido como coca, nome inspirado no ser mítico que assusta crianças), está ligada ao povo celta que habitava, grosso modo, a Irlanda. Ao invés de abóboras, porém, esculpiam nabos com caras que se pretendiam assustadoras e que eram utilizados simultaneamente como lanternas e como forma de espantar espíritos malvados, especialmente na noite que antecedia o Dia de Todos os Santos.
A tradição perdurou nos tempos até que, no final do séc. xix, começaram as grandes migrações irlandeses para os Estados Unidos da América. Lá, não encontraram a cultura do nabo a que se tinham habituado na Europa. Para continuar a tradição, a alternativa foi adotar a abóbora – um fruto nativo do continente americano – para a prática do ritual.
Em Portugal, até tempos muitíssimo recentes, nunca se utilizou a abóbora para servir de lanterna. Quando foi introduzida no país era considerada até uma espécie inferior e, por isso, maioritariamente utilizada para alimentar animais de trabalho e de criação. O próprio nome da espécie mais comum desses tempos diz tudo sobre este uso: falamos da abóbora-porqueira. Mais recentemente, com a introdução de espécies como a abóbora-menina ou mosquete, é que estas começaram a entrar no circuito alimentar dos portugueses, sendo hoje utilizadas para fazer sopas ou doces, como as filhoses.
É a grande abóbora, Charlie Brown Atualmente são produzidas cerca de 44 mil toneladas de abóboras só na região Oeste de Portugal, com um valor de mercado de, aproximadamente, 10 milhões de euros. O sucesso da plantação nesta zona do país deve-se, explica Maria Matos, ao seu clima temperado.
A prática do Halloween quase veio substituir a tradição portuguesa do pão-por--Deus. É uma “modernice”, considera Maria Matos, reconhecendo que, contudo, é uma forma de os produtores conseguirem rendimentos superiores aos que normalmente obteriam.
Existem várias espécies deste fruto que podem ser utilizadas para construir uma Jack-o’-lantern, como a abóbora mamute, a abóbora-menina ou a abóbora moranga. Todas estas espécies vão marcar presença no Festival da Abóbora. No entanto, a “cabeça-de-cartaz” que vai concentrar sobre si grande parte dos holofotes (mas não demasiados, dada a sensibilidade deste fruto) é a abóbora gigante com mais de 800 quilos que vem directamente de Itália. Linus Van Pelt, amigo de Charlie Brown, bem avisou que a Grande Abóbora existia.
Créditos da Notícia: jornal i