top of page

É Um Encontro de culturas e sabores. Chefs premiados vão cozinhar com amadores

  • Foto do escritor: Lima com Pimenta
    Lima com Pimenta
  • 10 de set.
  • 5 min de leitura

A segunda edição do festival É um Encontro vai apresentar mais de 20 gastronomias, com quatro cozinheiros bem conhecidos dos portugueses.

encontro, amadora, eventos
📷: Associação Crescer

Chefs reputados e premiados vão meter a mão na massa, e cozinhar com pessoas que mal conhecem, de outras culturas e raízes, de outros sabores e continentes. É esse, afinal, o espírito de É um Encontro, uma organização da associação Crescer e que é um dos pratos fortes das comemorações oficiais dos 46 anos do município da Amadora.

O curador da iniciativa é o Chef Nuno Bergonse, que, além de jurado do programa “Masterchef Portugal”, trabalhou em Londres, Barcelona e Moçambique. Já em Lisboa, passou pelo Eleven, pelo Ritz Four Seasons e abriu vários restaurantes. Só o currículo assusta. “Mas não vale a pena”, desdramatiza o profissional.

“A cozinha é transversal a todas as culturas e vamos melhorando com o tempo. Todos termos de comer, todos cozinhamos: brancos, amarelos, verdes, preto, azuis. Por isso, costumo perguntar: que outra manifestação cultural pode quebrar barreiras e preconceitos?”, questiona à New in Amadora o curador do festival, que já trabalha, nesta e noutras iniciativas, há oito anos com a associação Crescer.

Bergonse vai apostar na desconstrução de um prato típico brasileiro. Ao seu lado terá Rosana Pena, da Baía. “Vamos uma brincadeira. Ela vai fazer uma moqueca de camarão clássica e eu vou pegar exatamente nos mesmos ingredientes e desconstruir a moqueca, vou fazer de forma diferente. A experiência, que o público pode assistir ao vivo e depois provar, vai acontecer no Domingo, 14, às 16 horas.

Turbulência de chefs, sabores e talentos

A gastronomia é cultura, defende Nuno Bergonse, sem hesitar. “A Amadora é mesmo isso, um concelho com mais de 100 nacionalidades, com muita turbulência de sabores e talentos. As pessoas só têm de ter desafiadas a não ficarem nos seus cantinhos. E é isso que temos feito — incentivar toda a gente a vir comungar deste espírito de alegria.”

“Acabar com o preconceito dos coitadinhos, que só quem tem cursos é que é capaz de cozinhar e ser chef. Nada mais errado. Este projecto prova que a inclusão social é exequível, é possível”, sublinha Bergonse. “Amadora é alvo de preconceitos, mas não é a única. O Martim Moniz, Setúbal, e o resto do País também. E não faz sentido cruzarmos os braços contra esses preconceitos, porque Portugal — que é de todos os que cá moram, trabalham, constituem em família e lutam por um futuro melhor — está cheio de talento”, acrescenta.

Chakall, outro chef repetente no evento gastronómico, conhece bem a realidade da imigração e como ela pode um travão à inclusão e ao desenvolvimento social. “Eu próprio sou um imigrante, estou cá há 25 anos, e já com dupla nacionalidade há duas décadas. Mas sei bem o que é isso de viver num país estrangeiro e de sermos olhados de lado. Muitas vezes, também, não nos desafiamos, temos medo de falhar”, afirma. Por isso, defende festivais como o É Um Encontro, que procuram a “mistura, a integração, e o conhecimento de novas pessoas e troca de experiências”.

O argentino vai cozinhar a meias com o colombiano Edward Munoz Barrios, no domingo, 14, às 18 horas. “Vamos fazer umas arepas adaptadas, um prato tradicional da Colômbia e Venezuela, à base de massa de pão feita com milho moído ou farinha de milho”. Os chefs oriundos da América do Sul “estão em casa” neste showcoking de fusão.

Aposta nos cruzamentos multiculturais

Além de tertúlias, manifestação de riqueza cultural, há ainda mais encontros de fusão junto ao mercado da Mina. Durante os três dias ­— 12, 13 e 14 —, Cátia Goarmon, popularizada pela televisão como Tia Cátia, a propósito das várias séries dos seus programas de sucesso no 24 Kitchen, junta-se à grupeta.

“O Nuno Bergonse convidou-me e eu aceitei automaticamente. O concelho da Amadora assenta na ideia de multiculturalidade e o festival vai servir para mostrar e partilhar as raízes de cada um”, afirma à New in Amadora.

“Eu própria sou multicultural na minha vida gastronómica”, afirma, entre sorrisos. “Gosto de fazer cruzamentos, receber convidados com outras práticas, outras culturas. Acho este projecto super enriquecedor. E eu própria me senti incluída nesta multiculturalidade, até porque somos todos um. A cozinha é capaz de ser o sítio mais democrático”.

A autora de programa como “Os Segredos da Tia Cátia” vai cozinhar no Sábado, 13, às 18 horas, com Ruth Falcão. “Ela é natural de Angola, vai fazer um arroz de feijão à angolana, que não tem nada a ver com o que fazemos em Portugal, — o nosso arroz de feijão não leva óleo de dendê [óleo de palma]. E achei que era giro fazer umas pataniscas de bacalhau, que é um sabor muito nosso e um cruzamento feliz.”

Para o menu ficar completo não podia faltar o talento e a jaqueta de Justa Nobre, um nome incontornável da cozinha nacional, expoente máximo dos sabores tipicamente portugueses.

“É uma honra cozinhar com gente que tem um sonho”

Nascida no coração de Trás-os-Montes, Justa Nobre transportou alma e o sabor da cozinha tradicional portuguesa para a capital, onde tem o seu próprio espaço, uma referência gastronómica.

“É uma honra cozinhar ao lado de gente que tem um sonho”, afirma à New in Amadora, confessando, contudo, que quando aceitou o convite do curador não sabia exactamente de que se tratava. “Se o Nuno Bergonse, que tem o talento que todos conhecemos e é meu amigo, me desafia para um projecto destes, não tenho como recusar. Nem queria. Porque, agora que estou a inteirar-me sobre o projecto, acho que vai ser uma coisa muito bonita, muito inclusiva”, afirma.

A Amadora é um concelho com mais de 120 nacionalidades e, obviamente, essa diversidade cultural não pode ser desperdiçada, antes pelo contrário. “Pense numa coisa: a cozinha portuguesa já é de uma riqueza enorme: da minha cozinha transmontana, à alentejana, do Algarve, ao Porto e ao Minho. Agora, se a tudo isto juntarmos novas realidades de outros países, há razões para festejarmos. A cozinha é uma festa”, sublinha.

Justa Nobre garante não ter qualquer problema em partilhar a cozinha com alguém que não conhece. “Adoro essas misturas. ”À sua espera, Justa tem Fátima Vera Cruz, a nossa bem conhecida Fatinha. “Vai ser muito divertido e vou integrar-me no espírito da coisa”.

“Vou fazer um prato que as pessoas desvalorizam muito, uma sopa de castanhas, já a piscar o olho ao Outono, com cogumelos e presunto estaladiço. Ao seu lado, Fátima vai fazer “molho de peixe seco com farinha de milho”. Os dois pratos casam? Vamos ter de esperar por Sábado às 19h30.

A conversar também se saboreia

Nem só de comida e chefs vive a cultura gastronómica e, nesse particular, o programa do festival É Um Encontro tem um pouco de tudo: desde tertúlias a workshops, ou espectáculos de dança e músicas de outros países.

Após a inauguração, agendada para Sexta-feira, 12, há uma conversa sobre responsabilidade social, que junta Vasco Marques Pinto (El Corte Inglés), Mafalda Linhol (IKEA), Pedro Pereira (Metro). Já as 20 horas, há dança, com a academia Egzit, uma das mais activas da Amadora.

Na esplanada do mercado, Guto Pires canta às 21 horas, antes do workshop de cocktails ministrado por Constança Cordeiro. A noite termina às 22 horas, com Riot, músico, DJ e um dos responsáveis pelo fenómeno Buraka Som Sistema.

A manhã irá contar com actividades infantis, e uma tertúlia sobre cozinheiros e cozinheiras, em torno da questão “Há um género para ser chef?”. A polémica vai andar à solta, com a participação de Joana Barrios.

À mesma hora, mas na zona lounge, é apresentada dança tradicional nepalesa. Às 16h30 há uma exibição de capoeira e, às 19h30, actuam as Batucadeiras São Miguel de Arcanjo.

As batucadeiras Bandeirinha Panafrikanista sobem ao palco no Domingo, às 17 horas, seguidas pela Kirat Rai Society Portugal — Dança Tradicional Nepalesa, que encerram o festival, a partir das 20 horas. O programa completo do É Um Encontro pode ser consultado online.


Créditos doa Notícia: New In Amadora


bottom of page