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Noélia Jerónimo: "Os restaurantes deviam abrir, pelo menos, ao almoço" | in "Expresso"

Estado de Emergência é um ciclo de entrevistas rápidas a personalidades das áreas de turismo, hotelaria, restauração e animação em Portugal, sobre o presente e o futuro do sector, tendo em conta todas as alterações geradas pela pandemia de Covid-19.

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Noélia Jerónimo, chef e proprietária do restaurante Noélia, em Cabanas de Tavira, Garfo de Prata, na edição 2020 do guia Boa Cama Boa Mesa, que chegou a estar hospitalizada devido à Covid-19, refere que "há muitos restaurantes que não vão sobreviver" e que a normalidade só vai voltar "lá para 2025".


Estamos em Estado de Emergência, que provavelmente se vai prolongar até à Páscoa. O que representa para si e para o seu negócio ficar encerrado até essa data? Noélia Jerónimo - Em 2020 consegui pagar todos os ordenados até ao final do mês de Agosto. Fechámos em Novembro e durante dois meses não foi possível pagar na totalidade o lay-off. Neste momento apenas estamos a pagar aos funcionários aquilo que o Estado nos está a dar. Não temos capacidade para mais. Por isso, ficar fechado até à Páscoa, ou depois, só vai agravar a actual situação. Se não tivermos apoio do Estado vamos passar muito mal.


Como tem conseguido sobreviver nestes estados de emergência sucessivos? Recorreu aos apoios do Estado? Recorri aos apoios do Estado e estou à espera que me digam se me vão ajudar ou não. Sobreviver tem sido mau, muito mau. Posso dizer que tive o azar de fechar entre Junho e Agosto - fechámos a 20 de Junho e abrimos a 20 de Agosto - e como o Algarve é completamente sazonal, não trabalhar nestes meses significa que não se consegue pagar ordenados no Inverno. Também estive hospitalizada devido ao vírus. Quando reabri sentia-me ainda extremamente cansada, mas tinha de recomeçar por ter pessoas que dependem de mim para poder alimentar as suas famílias. Desde o dia em que começam a trabalhar comigo passam a ser também da minha família. No total somos 13 a 14 pessoas, a contar comigo. Neste momento sei que há pessoas a passar mal, especialmente os mais jovens. Há pessoas que já não têm dinheiro para comer.


Do seu ponto de vista, que medidas deveriam ser tomadas de imediato? Não consigo compreender a proibição de, em take-away, os restaurantes não poderem vender uma água, um café ou uma garrafa de vinho. Mais: penso que todos os restaurantes deviam poder abrir, pelo menos, para os almoços, nem que fosse só com metade dos clientes. Se podíamos sentar 40, agora sentávamos só dez. E, não nos podemos esquecer de todos aqueles que estão a trabalhar e agora nem têm um sítio para almoçar. Deviam dar hipótese às pessoas de continuar a trabalhar e de manter os postos de trabalho. Sei que não chegava para continuar a pagar ordenados, mas com o apoio do Estado e com alguns clientes, que são a alma dos restaurantes, sempre era uma ajuda nesta luta pela sobrevivência.


Existem lições a retirar para a restauração? É fundamental que as pessoas percebam: quem tem restaurantes, precisa mesmo de clientes. Muitos restaurantes não vão conseguir sobreviver. Quem fazia menus de €5 ou €6 não vai conseguir. É fundamental apostar na qualidade, do serviço e da comida e, mesmo assim, estamos sujeitos a ficar pelo caminho. Só quero que os bons não morram. Esta pandemia é uma grande lição de vida para todos, mas tenho esperança e fé de que vamos ficar melhores.


Como perspectiva o ano de 2021? Ainda existe espaço para a esperança?

Há espaço para ter esperança, mas infelizmente penso que ainda vamos voltar a um novo confinamento. Não sei se as vacinas serão o suficiente para acabar realmente com a pandemia. Ainda não acredito. Quando vier o Verão, talvez voltemos a ficar perto de alguma normalidade. Vamos ter esperança. Mas não acredito que a situação mude de um dia para o outro. Só lá para 2025 estaremos com o mundo normalizado. Até lá, não sei como será.


Créditos da Notícia: Expresso


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