Viseu recebeu 4.786 queijos de 47 países diferentes para decidir qual era o melhor. O prémio ficou em casa.
E se nem tivéssemos de andar mais do que umas dezenas de quilómetros para provar o melhor queijo do mundo? É o que pode fazer por um pedaço de Queijo de Ovelha Amanteigado, um queijo de leite de ovelha cru e macio que foi na Sexta-feira nomeado o vencedor de 2024 num concurso anual para encontrar o melhor queijo do mundo.
A edição deste ano dos Prémios Mundiais do Queijo - a maior desde a sua criação em 1988 - reuniu 4.786 queijos de 47 países na cidade portuguesa de Viseu para enfrentar o escrutínio exigente de 240 especialistas de todo o mundo.
O queijo, produzido pela pequena Quinta do Pomar, com apenas 10 funcionários, na Soalheira, Portugal, obteve a melhor classificação entre 14 finalistas, que incluíam nada menos do que cinco queijos suíços, além de entradas do Brasil, Estados Unidos, Noruega, Itália, Alemanha e Espanha.
Feito com coalho vegetariano criado a partir de cardos, o vencedor é descrito como um queijo pegajoso, brilhante e amanteigado, com um amargor herbáceo, que é normalmente servido cortando a parte superior e retirando o centro com uma colher.
“É bastante equilibrado... voluptuoso”, explica o exportador de queijo português Manuel Maia, um dos jurados do painel internacional. “É uma combinação realmente sublime de proteína e gordura. É de facto um queijo fantástico”.
O julgamento é um espectáculo em si mesmo. Depois de uma actuação de bateristas locais, as equipas de especialistas foram distribuídas por 104 mesas no salão principal do Pavilhão Multiusos de Viseu, cada uma com cerca de 40 queijos de todas as formas, cores, tamanhos, idades e texturas.
Reunir milhares de queijos à temperatura ambiente sob o mesmo tecto produz inevitavelmente um aroma intenso. “É muito forte”, é como John Farrand, director-geral da The Guild of Fine Food, organizadora do concurso no Reino Unido, descreve a atmosfera do evento.
Muitos dos queijos passaram por uma odisseia até chegarem às mesas de avaliação. Para permitir que os pequenos produtores apresentassem os seus produtos, foram criados 20 pontos de recolha em todo o mundo, em países como a Índia, Austrália, Brasil, Colômbia e Ucrânia.
Inevitavelmente, alguns queijos viajam melhor do que outros. Tal como este ano, edições recentes do concurso - nomeadamente quando foi realizado em Espanha em 2021 e na Noruega em 2023 - viram produtos locais serem coroados como vencedores. Farrand afirma que pode haver uma vantagem do país de origem, mas sublinha que as inscrições são julgadas às cegas. Normalmente, os locais não ganham.
“Talvez seja porque o queijo está na sua zona e tem aquele terroir que faz com que o vinho que compramos nas férias saiba muito melhor quando estamos lá”, explica à CNN. “Mas gostaria de deixar claro que há muitos anos que um queijo de outro lugar ganhou”.
Esta Sexta-feira, equipas de dois ou três juízes em cada uma das mesas avaliaram todos os produtos quanto ao aspecto, tacto, cheiro, sabor e textura na boca. Cada equipa selecionou quatro finalistas nas categorias de bronze, prata, ouro e super-ouro - estes últimos foram inscritos na prova final de queijos para decidir o vencedor de 2024.
No ano passado, o concurso foi ganho pelo Nidelven Blå, um queijo de leite de vaca azul velho semi-sólido e cremoso, produzido pela fábrica de queijo Gangstad Gårdsysteri, na Noruega. Em 2022, um Gruyère suíço ganhou o prémio principal.
Embora existam outros concursos internacionais, o World Cheese Awards afirma ser o maior do seu género, atraindo inscrições de grandes e pequenos produtores de todo o planeta. Embora o evento seja normalmente realizado num país europeu diferente a cada ano, a Guild of Fine Food diz que espera realizá-lo mais longe em algum momento.
“Trata-se de uma celebração da comunidade queijeira mundial”, diz Farron. “Qualquer prémio é importante, especialmente para os pequenos produtores, uma vez que o mundo se torna um lugar cada vez mais difícil para transportar um queijo".
“Do ponto de vista mais simples, trata-se de uma referência em todo o planeta, em 47 países. E se formos um produtor de queijo, num vale qualquer, com 12 cabras, obter esse selo de aprovação, essa palmadinha nas costas, é óptimo. E, claro, vai ajudá-los a vender o seu queijo e a manterem-se no negócio”.
Créditos da Notícia: CNN Portugal