Para Mark Hyman, especialista em medicina funcional, comer para melhorar o humor, um dos 21 princípios do regime alimentar que defende, a Dieta Pegan, é mais do que encarar o prato com uma generosa dose de boa disposição. Há que nutrir o cérebro com os alimentos certos e abandonar hidratos de carbono e gorduras nocivas em excesso. Como se usa dizer, “um almoço nunca é de graça” e no caso de uma alimentação equilibrada pode, de acordo com Mark Hyman, estar na base de distúrbios como a depressão e ansiedade.
Mark Hyman, norte-americano, é especialista em medicina funcional e defensor de uma dieta alimentar que concilie os princípios nutricionais da dieta vegan e paleo, o mesmo é dizer, a dieta pegan. Esta inclui alimentos integrais, gorduras saudáveis, hidratos de carbono refinados e açúcares limitados, e uma grande variedade de vegetais e fruta.
O especialista, apresentador de um popular podcast de saúde, The Doctor’s Farmacy, chega ao publico português com o livro A Dieta Pegan (edição Nascente) e, com ele, os 21 princípios que orientam o regime alimentar que preconiza.
“Escolher os cereais integrais, leguminosas, sementes e frutos secos certos”, “Tratar o açúcar como uma droga leve”, “Limpar, desintoxicar e reiniciar o organismo com sensatez”, “Comer e pensar na longevidade”, estão entre os princípios simples que Mark Hyman vê resultarem da relação entre “ciência e bom senso em directrizes que promovem a saúde, a perda de peso e a longevidade”.
Com os leitores do SAPO Lifestyle, Mark Hyman partilha o princípio 17 da dieta pegan, “Comer para melhorar o humor”:
Em 2020, nós, seres humanos, enfrentámos muitos obstáculos – uma pandemia, sistemas de saúde que não estiveram à altura, disparidades económicas, sociais e raciais. Muitas pessoas perderam os seus empregos e os seus negócios. Algumas lidaram com doenças trágicas. A depressão é agora a quarta doença mais comum no mundo e a principal causa de incapacidade. Já passámos por muito e temos de nos apoiar mutuamente, agora mais do que nunca. Por estranho que pareça, os alimentos podem ser uma ferramenta eficaz para melhorar o nosso humor e a saúde do cérebro. E podem fazer-nos felizes.
Há cada vez mais dados científicos que confirmam a ligação entre a dieta e a saúde do cérebro. Todos os distúrbios que envolvem a função cerebral – depressão, ansiedade, PHDA (perturbação de hiperactividade e défice de atenção), autismo, demência, problemas de comportamento, violência ou simplesmente a confusão mental – estão ligados à dieta e frequentemente, ao impacto que ela tem no microbioma intestinal. No entanto, a maioria das pessoas não percebe a profunda ligação que existe entre o que comemos e a função cerebral. O corpo e a mente são um único sistema bidireccional dinâmico. O que faz a um tem impacto no outro. É necessário optimizar todos os estímulos e eliminar todas as más influências.
Pode ser tão simples como foi com o meu paciente que, todos os dias, tinha ataques de pânico às 15 horas. Era um gestor muito atarefado de Nova Iorque, que passava os dias a trabalhar e as noites a comer, beber em grandes festas. Comia tanto à noite que só voltava a comer na tarde do dia seguinte. Apresentava gordura abdominal, resistência à insulina e grandes oscilações nos níveis de açúcar no sangue, com hipoglicemia. Os níveis reduzidos de açúcar no sangue constituem uma emergência potencialmente fatal que activa todos os sinais de pânico – aumenta a frequência cardíaca, respiração acelerada, suor e sensação de morte iminente, que pode mesmo tornar-se realidade, a menos que coma qualquer coisa. Tive de o convencer a comer durante o dia e à noite. Além disso, ele eliminou o açúcar e o amido e diminuiu o consumo de álcool.
OS ALIMENTOS PODEM SER UMA FERRAMENTA EFICAZ PARA MELHORAR O NOSSO HUMOR E A SAÚDE DO CÉREBRO. E PODEM FAZER-NOS FELIZES.
A ligação entre nutrição, humor e comportamento
Surgiram novos campos de investigação e departamentos académicos, tais como psiquiatria nutricional (em Harvard) e psiquiatria metabólica (em Stanford), desde que escrevi The UltraMind Solution, em 2008, que fala da forma como o corpo afecta a mente. Há estudos que comprovam que basta substituir alimentos processados, açucarados e ricos em amido por alimentos integrais (frutas, vegetais, azeite, frutos secos e sementes, leguminosas e alguns tipos de carne – pense Pegan) para obter resultados positivos no tratamento da depressão – na verdade esta dieta é 400% mais eficaz do que uma dieta ocidental típica*. Outros estudos revelam que as crianças com comportamento violento mudam do dia para a noite quando se substituem os alimentos processados por alimentos integrais.
Um estudo realizado com adolescentes agressivos revelou que bastou dar às crianças um suplemento de vitaminas e minerais para que os actos violentos fossem reduzidos em 91%, por comparação com um grupo de controlo**. O que explica o comportamento violento? O cérebro destas crianças tinha carências graves de nutrientes que regulam o humor e o comportamento incluindo ferro, magnésio, vitamina B12 e ácido fólico.