Com a imposição de encerramento dos estabelecimentos, a restauração viu-se obrigada a reinventar conceitos para se manter em actividade. No Algarve, há quem confeccione sozinho e embale em vácuo, quem faça entregas de bicicleta ou quem leve comida vegetariana a casa.
A nova situação criada pela pandemia de covid-19 revela-se todos os dias no comércio e na restauração, com centros comerciais vazios, mas em Loulé, no distrito de Faro, há quem esteja a marcar a diferença numa superfície comercial quase deserta.
Com toda equipa em regime de ‘lay-off’, o ‘chef’ Guy Doré decidiu assumir sozinho todas as funções, alternando entre a bancada e o fogão e dividindo a sua manhã entre compras, a preparação das refeições e o embalamento - “Não conseguia estar em casa à espera de uma varinha mágica ou da Nossa Senhora. As contas continuam a existir e assim vou tapando alguns buracos” afirma à Lusa o proprietário do G’s Bistro, pequeno restaurante inspirado nos bistrôs franceses.
A solidão é interrompida entre as 12:00 e as 16:00, quando os clientes chegam para levantar as encomendas. Um deles, “um cliente especial, já dentro da faixa de risco”, vive sozinho em Vila Real de Santo António e faz mais de 120 quilómetros para “um avio semanal ao domingo”.
Na sua alcofa leva, habitualmente, refeições suficientes para “apenas ter de regressar no dia habitual”, já que o embalamento a vácuo adotado pelo ‘chef’ Guy permite uma conservação mais prolongada e “preservar o sabor dos alimentos”, realça.
Com este sistema, basta ao cliente colocar o saco “durante cinco minutos em água a ferver e desfrutar de uma refeição 'gourmet' em sua casa”. Um conceito que o 'chef' poderá vir a “manter no futuro”.
A poucos quilómetros, na baixa da cidade de Faro, um outro restaurante de autor, o Los Locos, inaugurado em Novembro, teve que alterar o seu cardápio “por algo que as pessoas pudessem levar ou fazer facilmente em casa”, revela à Lusa Josefina Cardeza.
“A comida que produzíamos não era ‘take away’, por isso tivemos de nos adaptar e criámos estes produtos acessíveis para todos e que podem levar feito ou fazer em casa”, refere a ‘chef’, conhecida por Ju.
No menú, o polvo de Santa Luzia com batata-doce, o borrego com cogumelos ‘shitake’ ou o veado em laranja deram lugar a sorrentinos de fiambre e mozarela ou raviólis de espinafres e bacalhau ou de ossobuco.
Depois do encerramento em Março, o restaurante voltou a abrir “há uma semana” e a ‘chef’ argentina começou a disponibilizar um “serviço de entregas personalizado de bicicleta”, em que a própria leva a refeição ao cliente, “num raio de dois quilómetros”, abrangendo praticamente toda a capital algarvia.
Numa outra zona da cidade, uma alternativa vegetariana passou também a estar disponível ‘para levar’ ou a ser entregue na casa dos clientes que optaram por este regime alimentar.
Também inaugurado em novembro, o restaurante Vegan Box teve igualmente de fechar em Março, mas começou a “aceitar encomendas de clientes há duas semanas” e decidiu “reabrir para ‘take away’ em Maio”, revela à Lusa Beatriz Lopes.
A porta voz deste projecto familiar, que iniciou com a irmã Bruna e a mãe Ana, afirma que mantêm “o prato do dia diferente ao longo da semana”, embora tenha sido necessário “reduzir a variedade dos pratos oferecida aos clientes”.