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O que comer enquanto espera pela vacina (de acordo com a Ciência) | in "máxima"

Ingredientes-chave presentes nos alimentos do dia a dia podem ajudar o seu corpo a combater a Covid-19 – e até mesmo a melhorar a sua resposta à vacina.

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Na conferência virtual da Fundação Britânica de Nutrição, realizada em inícios de Dezembro passado, cientistas de renome debateram o papel fundamental da nutrição no combate à Covid-19. Alguns trabalhos que começam a surgir sobre doentes com Covid-19 e uma série de estudos já existentes relacionados com outras infecções virais mostram que há nutrientes-chave, como o selénio, zinco, vitamina D e probióticos, que podem fortalecer o sistema imunitário, limitar a gravidade dos sintomas do coronavírus e até mesmo reduzir o número de internamentos nos cuidados intensivos e as taxas de mortalidade.


Embora estes dados nutricionais requeiram investigação adicional, os resultados obtidos até agora são interessantes. Um estudo alemão mostra que os doentes que sobreviveram à Covid-19 têm níveis mais elevados de selénio – um nutriente que se encontra no peru, sardinhas, ovos, castanha-do-pará, fígado e rins – do que aqueles que morreram devido ao vírus.


Um estudo espanhol constatou que níveis saudáveis de zinco – um mineral que encontramos na carne, aves, queixo, marisco e sementes – estão associados a maiores taxas de sobrevivência. Um outro ensaio concluiu que 82,2% dos doentes hospitalizados com coronavírus tinham deficiência de vitamina D, que obtemos com a exposição ao sol. E um estudo italiano observou que os probióticos reduziam a gravidade dos sintomas de Covid-19 e as taxas de mortalidade.


"A nutrição é muito importante, não pela ‘resistência’ na protecção contra a Covid-19, mas sim por melhorar a nossa ‘tolerância’ à doença", explica Mike Gleeson, professor emérito de Bioquímica do Exercício na Universidade de Loughborough, Inglaterra, e autor do livro Eat, Move, Sleep, Repeat.


"Tolerância significa uma menor carga infecciosa quando somos infectados, pelo que podemos apresentar sintomas menos graves e recuperar mais depressa. É esse o papel possível da nutrição. Estamos a falar de componentes que podem otimizar a resposta imunitária ou ter benéficos efeitos anti-inflamatórios ou antioxidantes".


Nada do que comemos vai impedir que apanhemos Covid-19, adverte o professor Gleeson: "este vírus é tão contagioso que vai conseguir derrubar as nossas barreiras imunitárias". Mas um sistema imunitário forte irá, decididamente, ajudar a combatê-lo mais eficazmente. "Aquilo em que estamos a confiar é na nossa resposta imunitária quando ficamos infectados. E se tivermos deficiências em micronutrientes, isso poderá aumentar o risco de apresentarmos sintomas severos".


A ampla ligação entre um regime alimentar saudável e uma melhor resiliência a infecções não é novidade, mas o interesse em saber quais são os nutrientes que melhor poderão sustentar este efeito "tolerogénico" tem vindo a crescer. A resposta imunitária do nosso organismo a qualquer vírus requer um delicado ato de equilíbrio: se a nossa resposta imunitária for demasiado baixa, as defesas do nosso organismo ficarão sobrecarregadas. Mas se a nossa resposta imunitária for demasiado elevada, os processos defensivos envolvidos poderão provocar danos excessivos nos tecidos e desviar os recursos de outras funções vitais, debilitando mais o nosso corpo. Uma boa nutrição pode ajudar a optimizar esta resposta imunitária.


"Essencialmente, o nosso sistema imunitário liberta-se dos vírus ao procurar as células que ficaram infectadas para então as destruir", explica o professor Gleeson. "Por isso, é necessário um verdadeiro equilíbrio na nossa resposta imunitária. Queremos estar aptos a tolerar o vírus, até certo ponto, de modo a abrandar apenas um pouco as nossas defesas e a conseguirmos continuar a controlar a infeção para reduzir o risco de síndrome do desconforto respiratório agudo (quando os pulmões não conseguem fornecer oxigénio suficiente aos órgãos vitais) que pode ocorrer se os pulmões ficarem muito inflamados".


Assim sendo, de que forma podem estes nutrientes-chave ajudar o nosso organismo com os níveis certos? Os estudos existentes mostram que o selénio ajuda a refinar de maneira inteligente a nossa resposta imunitária. "Se tivermos um bom nível de selénio, os estados inflamatórios serão menos severos", diz o professor Gleeson. "Há provas de que conseguimos uma melhor proliferação dos nossos linfócitos (células de defesa do organismos pertencentes aos leucócitos [glóbulos brancos]), o que ajuda a activar as linhas celulares que respondem especificamente a um vírus".


Já o zinco ajuda a evitar que os vírus se proliferem. "Os vírus têm uma camada protetora que reveste o seu material genético e a primeira coisa que fazem quando chegam às nossas células é largarem esse revestimento, libertando o seu material genético e assumindo o controlo da nossa maquinaria de enzimas para ajudar a gerar outros vírus dentro dessa mesma célula", explica Gleeson. "Mas o zinco ajuda a inibir essa libertação do revestimento viral, bem como a enzima que permite que o material genético seja reproduzido na célula, ajudando a impedir que um vírus prolifere".

Os probióticos podem também desempenhar um papel importante, porque os intestinos são uma peça fundamental do nosso sistema imunitário. "Cerca de 70% das nossas células imunitárias estão localizadas nos intestinos e em seu redor", sublinha o professor Gleeson. Mas os intestinos são também uma zona de guarida da Covid-19.


"Os intestinos são uma atractiva sopa de nutrientes dos quais as bactérias e os vírus adoram alimentar-se. Os estudos existentes revelam que os probióticos podem modificar a população de bactérias intestinais, conferindo-lhes um perfil mais saudável. Os probióticos conseguem também modificar células imunitárias no intestino, que podem em seguida migrar para outras zonas, incluindo os pulmões – e é aqui que podemos conseguir alguma proteção".


A ligação entre a vitamina D e a Covid-19 ainda não está confirmada, mas a vitamina desempenha um papel crucial na imunidade geral. "Sabemos, com base em estudos sobre a gripe comum, que com um baixo nível de vitamina D estamos mais propensos a apanhar infeções virais", diz Gleeson. "Embora a dose recomendada seja de 10ug [microgramas], se não apanharmos sol durante meses isso não é suficiente para termos os níveis desejáveis para uma função imunitária ideal, por isso sugiro pelo menos 1.000 IU [unidades internacionais], ou 25ug".


Por isso, poderão ser necessários suplementos de vitamina D durante o inverno, mas o professor Gleeson insiste que podemos obter o máximo rendimento de outros nutrientes optimizadores do sistema imunitário com a nossa dieta do dia a dia. Além dos alimentos já mencionados, as nozes, bacalhau e alimentos integrais também contêm selénio (ingestão diária recomendada de 75ug para os homens e de 60ug para as mulheres); a carne de vaca, os alimentos lácteos e os espinafres também fornecem zinco (ingestão diária recomendada de 9,5mg para os homens e de 7mg para as mulheres); e um mix saudável de frutos e vegetais irá contribuir para termos bactérias intestinais saudáveis, podendo ser complementado com probióticos.


Mas se estas provas nutricionais não forem suficientes para o convencer, saiba que melhorar a sua dieta alimentar poderá ajudá-lo no âmbito da vacinação contra a Covid-19. "Sabemos que, no caso de vacinas como a do vírus da gripe, o selénio e a vitamina D estão associados a fortes respostas em termos de anticorpos", explica o professor Gleeson. "Por isso, faz sentido reforçarmos a sua ingestão, preparando-nos para quando for a nossa vez de levar a vacina".


Créditos da Notícia: máxima


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