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Restaurantes com causas. A inclusão servida à mesa

Êxito: a solidariedade é o principal ingrediente destes restaurantes, que nasceram para apoiar pessoas com dificuldades de integração no mercado de trabalho. E boa parte são autossustentáveis.

Por serem refugiados, sem-abrigo ou apresentarem dificuldades intelectuais encontraram barreiras à integração no mercado de trabalho. Para contrariar esta situação, vários restaurantes assumiram a inclusão como bandeira e deram a possibilidade a centenas de pessoas para encontrarem uma oportunidade de brilhar na cozinha ou na sala. Os formandos tornaram-se essenciais à operação e exemplo de que a solidariedade pode trazer benefícios para todos. “90% dos clientes não fazem ideia de que isto é um restaurante solidário. Vêm pela comida e pelo ambiente”, assegura José Agostinho, gerente do É Um Restaurante. Aberto desde 2019, em Lisboa, e vencedor do Prémio Nacional do Turismo, na categoria de Turismo Inclusivo, já formou cerca de 150 pessoas em situação de vulnerabilidade, que neste espaço encontram formação, trabalho e, sobretudo, uma oportunidade de voltarem a integrar-se na sociedade, com apoio da associação Crescer.


Antes de abraçarem funções transversais, da cozinha à sala, os colaboradores frequentam um mês de formação na Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa, a que se seguem seis meses de aprendizagem no restaurante. O foco “é também formar socialmente: organizar a vida, respeitar horários, a equipa, trabalhar sob pressão”, explica José Agostinho, acrescentando que ajudam as pes­soas a candidatar-se a empregos em diferentes sectores, embora a “maioria siga esta área, em especial a cozinha”.No Porto, desde 2006 que a instituição de solidariedade SAOM já apoiou cerca de 300 pessoas no processo de capacitação pessoal, social e profissio­nal através do Torreão, um elegante restaurante com um amplo terraço sobre o Douro. “Ensinar tarefas mecânicas, como tirar as espinhas a um peixe, é fácil. Difícil é trabalhar a parte emocional e social, de comunicação e contacto humano”, assegura Luísa Neves, coordenadora do projecto, cujo objectivo é apoiar pes­soas com dificuldade de integração devido a uma trajetória de toxicodependência, violência doméstica, pobreza crónica ou deficiência intelectual. A formação contempla um estágio curricular, “que muitas vezes é um passaporte para entrar no mercado de trabalho”, detalha. A responsável tem notado um aumento nos pedidos de colaboradores, embora isso não seja sinónimo de empregabilidade: “Nem sempre as entidades patronais são sensíveis ao continuum que é um percurso de integração e esperam pessoas totalmente aptas e autónomas”, assinala.


Colher o que se semeou

Das várias áreas ligadas ao turismo, é na restauração que se encontram mais exemplos de integração, com a maioria dos projectos a nascer já comprometida com uma causa. É o caso do Mezze, criado por iniciativa da Pão a Pão para acolher refugiados e migrantes de países como a Síria, o Iraque ou o Afeganistão.


Entre a cozinha, onde se confeccionam receitas caseiras do Médio Orien­te, e o serviço de sala trabalham 16 pessoas actualmente neste espaço no Mercado de Arroios, em Lisboa. Mas por aqui já passaram perto de 50 colaboradores. Outros tantos frequentaram a Escola Mezze, um projecto de formação em parceria com a Escola de Turismo e Hotelaria de Lisboa e que a 15 de Maio começa também a ser ministrado no Porto. “Tem sido uma enorme aprendizagem para todos”, consubstanciada na qualidade da “comida caseira, baseada em pratos que fazem para as suas famílias”, que agrada e fideliza clientes, explica Francisca Gorjão Henriques, presidente da Pão a Pão.


Autossustentável desde o início, Francisca garante que “os apoios públicos recebidos no arranque já foram devolvidos ao Estado várias vezes, em forma de impostos e contribuições dos funcionários para a Segurança Social”.

Uma “solução inteligente”

“Esta pode ser uma solução inteligente, e não solidária”, para combater a falta de recursos humanos no turismo, defende Filipa Pinto Coelho, presidente da Associação VilacomVida e CEO dos Cafés Joyeux em Portugal, que empregam maioritariamente jovens adultos com dificuldades intelectuais e de desenvolvimento. “Estavam em casa e agora são indispensáveis à operação”, assegura, acrescentando que as empresas “podem ter grandes benefícios ao empregar uma pessoa com este perfil, especificamente no sector da restauração e hotelaria”. O negócio, garante, é autossustentável, à excepção do período de formação dos colaboradores. Neste caso, além das contribuições de parceiros, encontraram outras fontes de receita: fazem catering, alugam o espaço para eventos empresariais, vendem merchandising e comercializam café, em grão ou cápsulas, a empresas, e em breve também a particulares, através do site do Café Joyeux.


Os 12 jovens colaboradores correspondem a 60% a 70% da força de trabalho. Outros tantos estão já em formação para o novo espaço, que inaugura em Junho em Cascais, o terceiro em Portugal, depois de São Bento e de uma cafetaria de uma empresa privada no Parque das Nações. O sucesso é medido também através do acordo celebrado com a Associação da Hotelaria de Portugal para a formação de colaboradores para integrarem diversas áreas deste sector económico.


Créditos da Notícia: Expresso


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